Casos de Empreendedorismo Português seleccionados
Por Jorge Nascimento Rodrigues, Janelanaweb.com, Abril 2004
Versão reduzida publicada no semanário português Expresso
História 5 - Dois investigadores portugueses revelam o valor imaterial das empresas cotadas na Bolsa portuguesa
Dois investigadores portugueses aplicaram a primeira ferramenta de avaliação do "capital intelectual" das empresas cotadas na Bolsa de Lisboa/Euronext Lisboa desde 1991 a 2002. O modelo experimental poderá ser um indicador para o apoio à decisão de investimento
Sítio dos autores KnowKapital
Artigo científico
«Applying knowledge capital models in the Lisbon Stock Exchange»
Notas sobre os cálculosO capital intelectual das empresas cotadas na Bolsa portuguesa chegou a representar cerca de 2/3 do valor de mercado dessas firmas em 1999 e tem-se mantido próximo ou acima dos 50% desde essa altura, apesar de um abrandamento em 2002. Esse espantoso número obtém-se a partir de um "multiplicador" aplicado por dois investigadores portugueses ao universo de mais de uma centena de empresas cotadas na Bolsa de Lisboa/Euronext Lisboa desde 1991.
O ratio criado, que funciona como um quociente do conhecimento "embebido" na firma cotada, relaciona o valor de mercado bolsista com o valor contabilístico líquido de cada uma, "corrigindo-o" com um outro indicador comparando a performance da empresa com a média do respectivo sector de actividade. O "multiplicador" obtido, a partir das médias, revela um disparo a partir de 1997 com um pico em 1999, em que chegou perto dos 3 (ou seja, o valor de mercado era quase 3 vezes mais o valor dos livros de contabilidade), estando hoje ligeiramente abaixo de 2.
O capital intelectual das empresas cotadas na Bolsa portuguesa chegou a representar cerca de 2/3 do valor de mercado dessas firmas em 1999 e tem-se mantido próximo ou acima dos 50% desde essa altura, apesar de um abrandamento em 2002.
O indicador aplicado à realidade portuguesa por José Maria Pedro, actual director do Núcleo de Sistemas de Informação da Inspecção Geral de Finanças, e Paulo Cardoso Amaral, professor da Universidade Católica, procura conciliar duas realidades - o desempenho passado da empresa no quadro do seu sector de actividade e a aposta de valor na empresa que os investidores fazem em bolsa.
Apesar de experimental, José Pedro e Paulo Amaral consideram que a aplicação tem "uma base teórica sólida" e poderá ser um indicador de apoio à tomada de decisão dos investidores. No livro que vão publicar ainda este ano - intitulado "O Capital Conhecimento: Modelos de Avaliação" - descem mesmo a uma abordagem mais fina dos 17 sectores representados na bolsa portuguesa ao longo dos últimos 12 anos e das próprias empresas cotadas.
A ascensão fulgurante do multiplicador a partir de 1997 revela o peso crescente do que os autores designam por "capital conhecimento" nas empresas cotadas. Segundo o estudo, as empresas com capital conhecimento positivo representavam uma fatia de 52% das cotadas no início dos anos 90, enquanto que na segunda metade dessa década chegaram a atingir mais de 75%. Mais recentemente, houve alguma degradação, com o percentagem a baixar para a faixa dos 60%.
Se um caso como a área das telecomunicações e tecnologias de informação surge como líder do capital conhecimento na bolsa, já é menos óbvio que a construção e obras públicas apareça como outra actividade com um alto capital de conhecimento reconhecido pelo mercado financeiro ao longo de mais de uma década.
Surpreendente é, também, o resultado do estudo sector a sector. Algumas conclusões são inesperadas. Se um caso como a área das telecomunicações e tecnologias de informação surge como líder do capital conhecimento na bolsa, já é menos óbvio que a construção e obras públicas apareça como outra actividade com um alto capital de conhecimento reconhecido pelo mercado financeiro ao longo de mais de uma década. Outro sector em que o "know how" é reconhecido é o dos seguros e fundos de pensões. Em outros dois casos é assinalada uma viragem notável - os sectores da restauração e turismo e dos produtos minerais não metálicos (mármores, granito e outras rochas ornamentais) passaram a ter um elevado capital conhecimento desde meados dos anos 90.
Entre os 17 sectores analisados, encontram-se dois com as piores posições em capital conhecimento - o têxtil e os transportes e armazenagem - e mais de 1/3 com uma situação instável. Sectores que revelavam um alto capital de conhecimento nos anos 90, como a electricidade, distribuição e comércio e imobiliário, manifestaram recentemente tendências para o declínio.
UMA APLICAÇÃO PIONEIRA As empresas valem mais do que o seu valor contabilístico reportado nos relatórios anuais e muitas das cotadas demonstram valores muito elevados no mercado financeiro ao longo do tempo, independentemente, das "bolhas" ou "crashes" das bolsas. Esse algo "mais" é metaforicamente chamado de "valor imaterial" e desde 1991 foi baptizado de "capital intelectual" da empresa por um até então desconhecido funcionário da firma sueca Skandia, de nome Leif Edvinsson.
Foi a revista norte-americana "Fortune" que forjou, depois, a "buzzword" com as reportagens de capa em 1991 e 1994 sobre o trabalho pioneiro de Leif. Uma série de livros sobre o tema sucederam-se, sobretudo a partir de 1997. A partir daí geraram-se mais de 25 metodologias de avaliação e medição do referido capital, que é mais do que o tradicional "good will".
O tema foi agarrado em Portugal por José Mário Pedro, de 49 anos, mestre em administração e gestão de empresas pela Universidade Católica, e Paulo Cardoso Amaral, 41 anos, doutorado em sistemas de informação e professor da mesma Universidade, onde coordena um programa avançado em gestão para as tecnologias de informação e comunicações. Rebaptizaram o conceito para "capital conhecimento" e resolveram aplicar experimentalmente algumas das ferramentas de medição disponíveis na literatura académica e na prática de consultoria a um universo "com dados publicados e fiáveis", optando pelas empresas cotadas na Bolsa de Lisboa/Euronext Lisboa para um período de mais de uma década.
Um artigo científico, resumindo o trabalho dos dois portugueses, foi apresentado em 2002 numa Conferência na Universidade Livre de Bruxelas e os resultados mais actualizados foram divulgados num seminário sobre gestão do conhecimento realizado, agora, no Instituto de Soldadura e Qualidade, no Taguspark, em Oeiras. Leif Edvinsson, por seu lado, estará em Coimbra e Lisboa nos dias 12 e 13 de Maio de 2004 para apresentar o seu livro "Longitude Corporativa" (Corporate Longitude), cujos pontos de vista foram reforçados recentemente por um grupo de peritos da União Europeia que trabalhou o tema da "economia intangível" (The European High Level Group on Intangible Economy).
Contactos dos autores:
Paulo Cardoso do Amaral, Universidade Católica Portuguesa
José Maria Pedro, Instituto de Estudos Superiores de Contabilidade
NOTAS SOBRE DADOS E CÁLCULOS 1) O universo de empresas usado nos cálculos inclui todas as empresas cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa / Euronext Lisboa desde 1991 até 2002, como os cálculos usam médias a três anos, por vezes, só aparecem resultados a partir de 1991;
2) A arrumação das empresas por sector não é sempre a mesma ao longo dos anos, algumas empresas aparecem em sectores diferentes nas publicações da BVL ao longo dos anos;
3) Algumas empresas que não cabem nitidamente num dos sectores usados foram colocadas num grupo indiferenciado a que chamámos "Outras empresas". Em certos casos, como um grupo económico pode prosseguir vários objectivos, uma empresa pode estar colocada num sector não coincidente com a actividade referida nos estatutos;
4) Para os cálculos do modelo MPM só entram as empresas que apresentem dados em três anos consecutivos porque o modelo VIC e o DifMtoB usam valores médios a três anos;
5) Todos os valores das empresas Portuguesas utilizados nos cálculos foram obtidos a partir das publicações anuais da Bolsa de Valores de Lisboa (BVL) com as Sociedades Cotadas em cada ano e na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM);
6) Os valores da Base de Dados auxiliar encontram-se em milhares de euros incluindo a Capitalização Bolsista. Algumas fontes de dados não eram explícitas quando à unidade usada, especialmente nos dados da CMVM;
7) Nas empresas seguradoras de 1991 a 1992, a Situação Líquida Passiva está incluída no Activo Total. Esta situação deve-se às diferenças contabilísticas deste sector;
8) As empresas seguradoras de 1991 a 1992 não pagavam impostos porque estavam nacionalizadas, havia apenas participação nos resultados pelo Estado;
9) No sector bancário a Situação Líquida refere-se aos Fundos Próprios e os Proveitos Totais ao Produto Bancário. Os Proveitos Totais têm uma arrumação diferente desde 1995;
10) Quando os valores de uma rubrica do Balanço (B) ou Demonstração de Resultados (DR) do mesmo ano publicados em boletins diferentes não coincidiam, optou-se por usar os dados publicados mais recentemente;
11) O Resultado Líquido é consolidado nos casos aplicáveis;
12) Os impostos referem-se apenas a impostos sobre lucros;
13) A capitalização bolsista refere-se ao fim do ano ou a uma data muito próxima;
14) O cálculo da relação entre o valor de mercado e o valor da empresa foi efectuado com a expressão: (Situação Líquida em 31.DEZ) / (capitalização bolsista referida publicada pela Bolsa de Valores de Lisboa);
15) A taxa de actualização usada para calcular o valor actualizado foi 8% uma estimativa do custo do capital em Portugal;
16) Nas empresas que encerram as contas em Março, quando não foi possível obter valores anuais, considerámos os valores do Balanço e DR como se fossem de 31 DEZ do ano anterior para ficarem assimiláveis às restantes.
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