Trabalhar pr'ó boneco
Um velho amigo meu, que trabalhava numa empresa de engenharia muito conhecida, referia-se à fraca qualidade do que lhe davam para fazer comentando amargamente: «Isto não é engenharia, é engenhática». E é a ele que devo a desconfiança em relação a uma coisa chamada «engenharia financeira», associando-a a malabarismos com verbas que desaparecem de um lado para aparecer noutro - sem que o vulgo compreenda muito bem o que se passou.
Vem isto a propósito das portagens da Ponte 25 de Abril (que, através de uma dessas «engenharias», servem para ajudar a pagar a Vasco da Gama) cuja cobrança é suspensa em Agosto: já que tanto se fala de poluição e de aquecimento global não seria possível arranjar uma qualquer «engenhática financeira» que fizesse com que os transportes públicos (nomeadamente o combóio) beneficiassem (eles sim) dessa «borla»?
Quando se fala destas coisas vêm-me sempre à ideia as portagens variáveis - em que os carros pagam na proporção inversa do número de pessoas que transportam, havendo uma maquineta que analisa o conteúdo humano do veículo. Coisa sumamente irrealista para Portugal, onde só serviria para criar uma próspera indústria... de manequins!
Publicado no "EXPRESSO" - "Carta Branca", em 31 Ago. 2002
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