Allison
Ellis, moderadora de «FreeZone»
A juventude é a força dirigente para a inovação
Jorge Nascimento Rodrigues com Allison Ellis
O EXPRESSO esteve com Allison Ellis (allison@freezone.com),
uma das «moderadoras» mais activas no mundo adolescente «on-line». É uma «chat
jockey» (tal como desde os anos 60 temos os «disc jockeys» nas discotecas).
Vela pela segurança face a intrusos e por uma jovem comunidade virtual «limpa»
de algumas maleitas (violência, pornografia, pedofilia).
Modera as conversas e desenvolve, por vezes, trabalho terapêutico - todos
os moderadores têm formação para lidar com inclinações suícidas por parte
de jovens. Ela trabalha na FreeZone (www.freezone.com),
uma das maiores comunidades virtuais, povoada por jovens dos 8 aos 14 anos,
que envolve mais de 30 mil «personagens» (alguns são variantes da mesma pessoa,
que adopta várias personalidades) em todo o mundo e com uma maioria clara
de raparigas.
Originalmente foi criada pela CompuServe e chamava-se «Internet in a Box for
Kids». Desde há dois anos baseada em Seattle (cidade conhecida por ser o quartel
general da Microsoft), agora é parte do projecto editorial «Curiocity» com
versões em papel e «on-line». A visão de Allison Ellis sobre o que se passa
no terreno retoma muito do que Don Tapscott escreveu em «Growing Up Digital».
Sem exageros literários, há, de facto, uma vantagem dos
miúdos de hoje em relação aos seus pais?
ALLISON ELLIS -- Ainda que para muita gente, isso possa ser desonfortável
e indesejável, a capacidade de os miúdos ensinarem os pais - e os professores
- em determinadas áreas da revolução digital pode ser uma experiência muito
positiva.
Mas essa revolução não é ainda controlada, à mesma, pelos adultos?
A.E. -- A juventude pode não controlar politicamente, mas é, certamente,
a força dirigente para a inovação. A tecnologia não intimida os adolescentes,
nem os mais miúdos. Eles não têm qualquer receio em experimentar ou criar
coisas novas. Sim, pela primeira vez na História, a juventude tem uma «voz»
própria, distinta, na forma como a tecnologia é criada e distribuída.
Acha que os novos «media» digitais são mais neutrais ideologicamente
do que a TV e a rádio?
A.E. -- Neutrais, não me parece a melhor expressão. Eles são também
altamente opinativos. Diria, mesmo muito mais, já que o acesso é barato e
fácil - qualquer grupo pode fazer chegar a sua mensagem a milhões através
de uma página na Web. O que são é mais diversificados. São um mosaico - mas
não é isso a realidade?.
O correio electrónico transformou-se no cartão de visita entre
os miúdos e a «querida» TV perdeu o poder de atracção?
A.E. -- «E-mail me» transformou-se, de facto, no meio preferido de
comunicação entre a malta nova. A consequência é que mais informação gira
electronicamente do que por telefone ou fax, ou sequer carta. Quanto à TV,
todos os estudos de audiência o indicam entre as camadas jovens.
E acha que os especialistas de marketing já se aperceberam
disso?
A.E. -- Eu creio que ainda não estão seguros de como abordar esta nova
geração. Em certo sentido, as inclinações dos miúdos não se alteraram - o
meio para interagir com eles é que mudou e isto assusta muita gente e obriga
os homens do marketing a grandes cautelas. Pais, pedagogos e outros «advogados»
da juventude querem proteger os miúdos da publicidade manipuladora. Por isso,
o marketing directo «on line» é ainda muito tímido, ainda que possamos esperar
novos métodos no futuro, ainda que numa base muito limitada.
Esta nova geração continua a ser pintada por muita gente como
potencialmente analfabeta. Julgam que estar agarrado ao écran e ao teclado
do PC, saltitando na Web, é o mesmo que estar à frente da pantalha televisiva...
A.E. -- Até na sua forma mais rudimentar, o correio electrónico desenvolve
a escrita e a linguagem! Os «chat rooms» e as BBS (bulletin board system)
servem de veículos para a discussão, o debate e o pensamento crítico. É claro
que nem tudo na Net é educativo, há lixo, mas o facto é que se cria uma cultura
de aprendizagem muito activa. Que não havia dantes.